quarta-feira, junho 24, 2009

A última dose.

Houve uma época, muitos e muitos anos atrás, quando eu ainda acreditava em todas as pessoas, e achava que todos eram bons e ficava sentado na soleira da porta, esperando por meu pai. Ele sempre trabalhou muito, mas o que nos mantinha afastados não era o trabalho, era algo mais poderoso, que mesmo o amor de seus três filhos (Minha irmã, eu e meu irmão) não pode vencer. O que mantinha-nos afastados era o Bar, contra o qual nunca pude concorrer.
Meu pai saia do trabalho as 16:00h, ia direto para o bar, ficava lá até as 17:30, vinha para casa completamente embriagado, parecia odiar a si mesmo, a mulher e os filhos. Certa vez ele nos bateu (em mim e em meus irmãos) sem qualquer motivo. Sempre esperei meu pai na soleira da porta, jamais ele veio, sempre passava por mim era aquele homem do bar, trôpego, agressivo, e mau. Para compensar sua ausência meu pai dava dinheiro, não que fosse muito, mas sempre tive o que queria, exceto meu pai, este era propriedade exclusiva do bar.
Passaram infância e adolescência, virei homem e comecei a cuidar de minha própria vida, não o esperava mais na porta, sabia que não viria, desisti. É claro que nunca ter conhecido meu pai trouxe-me consequências terríveis, em primeiro lugar o único modelo masculino que eu tinha a minha disposição era um bêbado, o que, deve-se convir, não é o melhor exemplo para a formação do carater de ninguém; em segundo lugar eu tive que aprender muita coisa no mundão, o que com certeza, embora seja eficaz, não é nada seguro e, por fim, perdi o amor, que tive, por meu pai.
Quero deixar bem claro que eu não o odeio, pois se odiasse implicaria em me importar com seu destino; este homem simplesmente não significa para mim mais que um desconhecido por quem eu passo na rua. É exatamente isso, meu genitor não provoca em mim maior simpatia que o tiozinho que passa em frente do meu trabalho vendendo sorvete, embora o tiozinho do sorvete costumeiramente me dê atenção quando falo e seja muito mais gentil.
Daqui alguns anos, depois que meu pai tomar a última dose, ele vai chegar em casa que estará toda apagada, acenderá a luz e procurará por sua família, então, se lembrará que os filhos o deixaram, a mulher o abandonou e que restou-lhe somente o bar. Quem sabe, então, ele seja finalmente feliz. Se me ligar e perguntar, onde estou, se não quero estar com ele, responderei:
- Talvez você devesse buscar no bar, que foi sempre sua prioridade, algum alento para sua solidão.

Está história é baseada em fatos reais da minha vida.
Eu já o perdoei, mas isso não significa que tenho que conviver com uma pessoa que só tornou minha vida infeliz.

4 comentários:

Vivi disse...

Ai, Jr, que história triste. :( Deve ter sido muito difícil crescer nessas circunstâncias. Mas graças a Deus, hoje vc tem o Senhor em tua vida, tem o bem mais precioso desse universo, e a vida de Deus é capaz de tragar tudo o que é negativo, trazendo o amor e a paz.

Beijos!

Anônimo disse...

Nossa! :(
essa parte obscura da sua vida eu nao sabia! Nem esse tempo todo de msn...
Esse foi a postagem mais pessoal q vc ja fez nao foi?
Lamento mesmo tudo isso...Vivo algo parecido, meu pai tb bebe bastante, mas ainda nao se mudou pro bar...rs
Um abraço meu amigo!

Anônimo disse...

oi

Rubens disse...

Oi Jr, depois de muito tempo, eis me aqui novamente. Gostei do novo formato e cores do seu blog. A sua histório é idêntica a minha, com muita violência por causa da bebida. Mas, como td passa, isso passou, ele faleceu e a vida continua. Na minha família ninguém seguiu esse vício, felizmente. Grande abraço.